Narrativas: Comunicação em Tempos de Crise
- Thales Malassise Luiz
- 12 de set. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 29 de out. de 2024
O poder da comunicação na política é imenso, moldando narrativas, influenciando a opinião pública e, muitas vezes, definindo o curso das discussões sobre temas cruciais. Ao longo da história, mais governos de direita do que de esquerda, têm utilizado ferramentas de comunicação para promover suas próprias agendas. No entanto, um problema recorrente em ambos os lados é a falta de autocrítica e a tendência de desviar a atenção dos pontos críticos em momentos sensíveis.
Durante o governo Bolsonaro, as queimadas foram amplamente denunciadas. A política de desregulamentação em relação ao garimpo e à extração ilegal de madeira exacerbou a destruição florestal. A oposição, especialmente alinhada com movimentos ambientalistas, pressionou o governo, mobilizou a opinião pública e cobrou ações urgentes.
Porém, o cenário atual, do governo Lula, revela uma crise ambiental alarmante, com queimadas recordes e níveis de poluição prejudicando a saúde de milhões de pessoas. Para se ter uma ideia da gravidade, o Brasil registrou 17.182 focos de queimadas apenas nos primeiros quatro meses deste ano, o maior número para esse período desde 2003, marcando o segundo ano consecutivo de aumento sob a gestão atual, com um crescimento de 81% em relação ao ano passado. Este é o momento mais grave na história recente, com cidades cobertas por fumaça tóxica e um número crescente de internações por problemas respiratórios, e até mortes. Apesar da gravidade, a comunicação oficial parece, em parte, ser mais uma ferramenta de autoproteção, utilizada para amolecer críticas, em vez de uma plataforma para fomentar ações verdadeiramente eficazes.
A grande falha aqui reside na falta de autocrítica. A mídia pró-governo muitas vezes foca em suavizar a percepção pública, projetando uma imagem de esforço em lidar com a crise, mas sem reconhecer que muito poderia ter sido feito anteriormente, especialmente em termos de planejamento e prevenção. A comunicação torna-se estratégica: em vez de admitir falhas ou insuficiências, prioriza a construção de uma narrativa que dilui a responsabilidade.
Esse tipo de estratégia de comunicação, infelizmente, não é exclusividade de governos de esquerda (meu espectro) ou de direita. Ambos os lados, quando no poder, utilizam a mídia e a propaganda para manipular a opinião pública a fim de aliviar críticas. No entanto, o papel da comunicação política deveria ser muito mais do que uma ferramenta de controle de danos; deveria servir como um meio de informar, gerar debate e provocar mudanças reais e estruturais.
O Brasil enfrenta agora um desafio climático e ambiental de proporções gigantescas, e isso exige soluções concretas e emergentes. Mas a forma como a crise é comunicada ao público pode determinar a maneira como as pessoas reagem, ou se deixam levar por uma sensação de falsa segurança. Em tempos de crise, a transparência e a capacidade de admitir erros são essenciais para manter a confiança do público e gerar a pressão necessária para mudanças efetivas.
Estudos mostram que o excesso da manipulação de narrativas pode criar uma desconexão entre a realidade dos problemas e a percepção do público. Um exemplo claro disso é a forma como o governo atual tem comunicado sobre a questão ambiental. Mesmo com números alarmantes e uma crise em pleno curso, a narrativa oficial tende a apresentar soluções paliativas, em vez de reconhecer a responsabilidade - mesmo que tardiamente - e agir realmente com firmeza.
Em conclusão, o verdadeiro desafio para qualquer governo, seja de direita ou de esquerda, é não se render à tentação de usar a comunicação apenas como uma ferramenta de autopreservação, mas como um meio de transformação. Se a crítica é suprimida ou suavizada, perde-se a oportunidade de corrigir falhas e de agir preventivamente para evitar novas crises. O Brasil, e o mundo, precisam de menos propaganda política e de ações reais e efetivas.
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